NOTA PÚBLICA DA ASSOCIAÇÃO DE PESQUISA IYALETA Em Solidariedade à Profa. Dra. Maria Inês Barbosa
“Filha daquela que passeia nos mundos. O ilá de quem não dorme. Vento que uiva as madrugadas. O silêncio colonial já não existe mais. Somos água, vozes em expansão”*
A Iyaleta – Pesquisa, Ciências e Humanidades vem a público manifestar solidariedade a Profa. Dra. Maria Inês da Silva Barbosa, conselheira cientifica desta Associação de Pesquisa. Cientista, Doutora em Saúde Pública pela Universidade de São Paulo (USP) e docente adjunta aposentada pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a professora tem uma longa trajetória no campo da pesquisa, ensino, formulação e promoção das políticas públicas de combate ao racismo e todas as outras formas discriminação no território nacional e em fóruns internacionais. Foi forjada pelo Movimento Negro Brasileiro como liderança com atuação na Agenda de Saúde da População Negra e na III Conferência Mundial contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas das Nações Unidas, realizada em Durban, África do Sul, para a aprovação da Declaração de Durban (2001).
A Dra. Maria Inês da Silva Barbosa é uma desbravadora, pioneira na década de 1990 nos estudos sobre racismo e saúde, apresentando por meio de dados públicos o perfil de mortalidade da população negra da cidade de São Paulo, sendo um resultado de sua Tese de Doutorado, reconhecidamente o primeiro trabalho na temática no país, em 1998. Em sua contribuição para o Estado Brasileiro como gestora federal, atuou no Programa de Combate ao Racismo Institucional, sobretudo nas áreas da saúde e educação. No percurso de sua vida pública se colocando à disposição da luta por uma sociedade mais justa e equitativa, uma defensora do Sistema Único de Saúde (SUS), ela sempre, em seu discurso e sua atuação, traz uma narrativa interseccional em que ninguém deve ficar de fora. A sua lente e a sua percepção no enfrentamento ao racismo considera ser de fundamental importância um SUS de todas, todes e todos.
Atua desde o Brasil para a América Latina, defendendo uma América que se reconheça afrodescendente na sua contribuição como sociedade diaspórica africana. Sabemos do enorme legado desta cientista, porém, registramos a sua fundamental importância para a sociedade no enfrentamento ao racismo em contraposição ao cerceamento de direito à livre manifestação do pensamento e expressão durante seu discurso realizado na Conferência Municipal do Sistema Único de Saúde (SUS) no último dia 30 de julho de 2025. Ato realizado pelo representante do poder executivo municipal, o prefeito da cidade Cuiabá Abilio Brunini (PL), que de forma autoritária vetou o direito da pesquisadora de utilizar pronome neutro em sua intervenção durante a Conferência, impedindo sua continuidade na atividade.
O ato do gestor público municipal viola o direito à livre manifestação do pensamento e expressão das cientistas no Estado Brasileiro, garantido a todas às cidadãs brasileiras pela Constituição Federal de 1988, no seu Art. 5º, inciso IV, que estabelece a liberdade de manifestação do pensamento. E no Art. 220 da Constituição, que trata da liberdade de manifestação do pensamento, criação, expressão e informação, sem sofrer restrições, exceto aquelas previstas pela própria Constituição.
Estamos diante da mais profunda manifestação do Racismo Institucional na sua Intersecção com o Patriarcado, que tenta desqualificar o discurso e a pessoa-política da cientista-doutora-professora-ativista-pesquisadora. A tentativa de calar a sua fala é um ato de violência não apenas à sua pessoa, mas à própria ciência, que se fortalece na diversidade de perspectivas.
A intervenção da Dra. Maria Inês da Silva Barbosa na Conferência de Saúde do Município de Cuiabá é um lembrete poderoso de que a luta por equidade deve ser incessante. Sua coragem nos inspira a não nos calarmos diante dos crimes e exigirmos um mundo onde a diversidade não só seja respeitada, mas celebrada, implementada nos discursos e ações. Que seu exemplo fortaleça nossa determinação em construir uma sociedade onde saúde, dignidade e direitos sejam garantidos a todas as pessoas em suas diversidades.
Salvador – Bahia, 31 de julho de 2025.
Associadas Confluentes
Associação de Pesquisa Iyaleta