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Queniano e ativista pelo clima, Kevin Mtai, conta sobre MockCOP26 e sua trajetória na luta contra as mudanças climáticas

 

Diálogos Iyaleta Sul Global

A Associação de Pesquisa Iyaleta conversou com o ativista Kevin Mtai sobre sua história, atuação na COP26, realizada em Glasgow, e organização de outros jovens pela luta contra as mudanças climáticas.

Tradução e Transcrição da entrevista por Ellen Monielle


 

Kevin Mtai é um ativista pelo clima e ecologista queniano. Ele é atualmente o Diretor de Desenvolvimento Global e Co-fundador da Rede de Ação Ambiental do Quénia (KEAN), onde ele tem advogado pela educação climática em seu país e no continente africano.

Além disso, Kevin também dá suporte a ativistas líderes de sustentabilidade e meio ambiente, criando espaços de engajamento e ajuda na implementação de locais de ação para tratar sobre questões da crise climática e da biodiversidade no Quénia. O ativista também faz parte das Sextas-feiras pelo Futuro Internacional e trabalha para garantir que as histórias das pessoas mais afetadas sejam ouvidas na luta global pela Justiça Climática.

 

Os pesquisadores da Associação de Pesquisa Iyaleta Andrêa Ferreira e Diosmar Filho conversaram com Kevin, que abordou questões relacionadas à sua história e o desenvolvimento da sua luta pelo clima, voz e seu país.

 

Confira a entrevista:

Iyaleta: Quem é Kevin e o que te levou a lutar contra as mudanças climáticas? E se atua em alguma organização.

KM: Eu sou do Quênia, moro em um vilarejo aqui do país. Uma das razões pela qual eu me envolvi na jornada de ativismo climático, deve-se a minha profissão médica, pois eu via muitos impactos relacionados a poluição e outras atividades. Então, quando eu ainda era estudante de medicina, eu comecei a entender porque as pessoas estavam sofrendo por isso, e aí resolvi tomar uma ação, fazer algo sobre e alavancar as vozes daqueles que são constantemente silenciados nessa luta. Passo a passo, durante os anos de medicina, eu comecei a visitar algumas instituições e trabalhar com as comunidades locais. Quando estava perto de me formar, eu decidi me dedicar integralmente ao ativismo climático e encontrar alguma organização para me envolver. E foi aí que conheci e entrei para o Fridays for Future (Sextas-feiras para o Futuro) e também outras organizações envolvendo juventude e clima. Eu me tornei mais engajado na minha comunidade e incentivando mudanças em outras comunidades do Quênia e pelo mundo.

 

Iyaleta: Você esteve participando da COP 26 na cidade de Glasgow na Escócia? Se sim, qual a sua avaliação como uma pessoa nascida e que vive no continente africano? 

KM: Sobre a COP26, nós tivemos a chance de organizar lideranças jovens em um evento chamado Mock COP, também organizado e planejado por jovens. Como a COP 26 foi adiada, decidimos nos juntar no Mock COP para começar algumas atividades, pois mesmo com a COP sendo adiada, as mudanças climáticas não são. Foi organizado pela SOS UK, depois de tudo pronto foi contactado várias lideranças jovens do mundo todo, incluindo eu. Fizemos isso para mostrar aos líderes de todo mundo e aqueles que organizam a COP, que a juventude também pode liderar e advogar nessa pauta. E a importância da Mock COP gira em torno de como a juventude foi representada, com jovens de áreas marginalizadas e povos indígenas, o que pavimentou nosso caminho para COP 26, em Glasgow.

Até chegarmos lá, foi uma longa jornada pois passamos pela Suécia, onde realizamos uma marcha e várias outras atividades. Minha visão da COP 26 é que deveria ser uma COP ambiciosa e inclusiva, mas não foi assim. Na COP, você conseguia ver lobistas de combustíveis fósseis participando, no qual o número era maior comparado a delegados de um dado país. Eu acho que essa foi a COP dos combustíveis fósseis. Eu e outros jovens fizemos uma pesquisa e descobrimos que estavam presentes mais de 10 empresas responsáveis pela poluição e destruição do meio ambiente global.

Por que convidá-los para financiar essa COP, se tínhamos empresas sustentáveis querendo financiar o evento. A COP 26 não foi bem organizada, eles não convidaram povos indígenas na maioria dos painéis, você conseguia ver que eles não tiveram tantas oportunidades de ecoar suas vozes e demandas.

A única COP que posso dizer que foi melhor sucedida foi a COP na França, que terminou com o Acordo de Paris. Pessoas estão morrendo com os impactos das mudanças climáticas. Enquanto isso, o acordo climático de Glasgow não mencionou nada sobre alimentação, já que sua produção em larga escala é um problema climático muito grande.

 

Iyaleta: Qual sua percepção sobre as desigualdades étnicas, raciais e de gênero no Quênia, diante dos impactos das mudanças climáticas? 

KM: Aqui no Quênia, as grandes afetadas pelos impactos das mudanças climáticas são as mulheres e crianças. Elas cuidam da casa, da família, das crianças, mas não tem muito suporte nem financiamento para se adaptarem a essas mudanças, principalmente, no que diz respeito à educação.

 

Iyaleta: Você acredita que podemos construir uma Rede no Sul Global para que ambições globais de descarbonização e proteção da natureza sejam alcançadas? Se sim, por que é importante para você?

KM: Sim, eu posso te dar um exemplo. O Fridays for Future, como um movimento, não nos deu tanta oportunidade de abordar e ecoar nossas vozes e nossas demandas de uma forma tão boa, e essa é a razão pela qual eu e mais um grupo de jovens do Sul Global criamos o Fridays for Future MAPA (Most Affected People and Area – Pessoas e Áreas Mais Afetadas) para discutir nossas demandas como pessoas e jovens do Sul Global que estão sendo extremamente afetadas pelas mudanças do clima. Para mim, como uma pessoa do Sul Global, é um movimento muito importante criar uma plataforma como essa para atuarmos juntos contra um inimigo comum.

 

Sobre os Diálogos Iyaleta Sul Global

A Associação de Pesquisa Iyaleta criou a série “Diálogos Iyaleta Sul Global” para ampliar as confluências diante das ações para a redução do aquecimento do planeta e os impactos nos territórios do Sul Global, fortalecendo nossa Chamada de Ação “↓1,5°C e Desigualdades Zer0”. Os diálogos com pesquisadoras ou ativistas do Sul Global, produzem visibilidade para as realidades e as ações de eliminação das desigualdades raciais, étnicas, de gênero, geracional e territoriais.